Mogi-Mirim, 14 de janeiro de 2007.

Saimos de São Bernardo às 6:15, eu e o Lacerda. Sentimos falta do Ivan desta vez.

Sempre que chegamos ao aeroclube é possível ver os aeromodelos fazendo suas acrobacias. Eu pensava que tinha apenas um ou dois. Enquanto esperávamos o Carinta, fui até a ponta da pista, onde costumam ficar os aeromodelos. Para minha surpresa tinha uns oito aeromodelistas, e me disseram que a metade ainda não havia chegado naquela manhã. Um pessoal bacana, viu, logo amarramos conversa. Ficam ali, voando seus modelos e comendo um churrasquinho. Gostam de discutir detalhes técnicos de seus modelos e também de fazer manobras que são praticamente impossíveis nas aeronaves reais. Olha, que eu estou careca de ver aeromodelo, mas ontem presenciei manobras que pra mim só novidade. Gostoso de ver.

O Carinta conversou bastante comigo. Engraçado como dá atenção a todos, mesmo com o aeroclube cheio. Aliás, que diferença da primeira vez que estive lá. Aquilo parecia um lugar abandonado, um cenário de faroeste, a hangar era praticamente vazio. Agora o lugar vive cheio de gente nos finais de semana. É muito comum ver as pessoas da cidade visitarem o aeroclube. O hangar não comporta mais tanta aeronave. Ontem estavam planejando como vão aumentar a área coberta.

O Carinta me contou o segredo. Vou contar só pra você, mas vê se não espalha.

O segredo é colocar as pessoas junto. Com habilidade, eles mantém um clima amistoso, não permitindo que se formem panelas. Lá não tem esta estória de "piloto de giro pra cá, piloto de avião pra lá", "gente do aeroclube aqui, visitante ali". Não. A idéia é manter todo mundo junto. Justamente por isso estão providenciando uma área próxima ao hangar para os aeromodelistas. Quando você for lá, não estranhe se vir pilotos de giro voando em asa-fixa, e vice-versa. É comum os pilotos de Mogi-Mirim ensinarem uns aos outros.

Esta ausência de barreiras exige um pouco mais de habilidade das pessoas. Em vez de simplesmente dizer "isso é proibido", o costume ali é conversar e ensinar. Um exemplo: ontem, havia um ciclista bem no meio da pista quando um de nossos amigos queria pousar, de modo que ele teve que fazer mais um turno de pista. Depois de pousar, foi até o rapaz e lhe explicou, muito amigavelmente, que aquela situação poderia ter sido perigosa. No fim da conversa estavam os dois rindo juntos e tenho certeza que o rapaz vai voltar lá, desta vez com mais noção de segurança.

São detalhes que chamam a atenção, pois revelam o caráter das pessoas. Para fazer funcionar o seu giro o Lacerda precisou trocar um pequeno conector elétrico. Será que lá tem? Tem. E ferro de solda? Tem. Bateria pra chupeta? Tem. Tem até oxigênio. Achei curioso. O Carinta me contou uma estória para explicar o motivo: "outro dia fulano precisou cortar uma coisa e quebrou a serrinha. No dia seguinte trouxe três. O Décio precisou de uma junta para o cabeçote. Pegou uma que tinha guardada aqui. No final de semana seguinte ele trouxe meia-dúzia, sem ninguém pedir. É nosso costume, começamos assim e ninguém pisa na bola, todo mundo respeita. Se precisar o Néco cobra a pessoa". Néco é o zelador do aeroclube.

Há quem não se sinta à vontade neste ambiente. O Romera não está mais em Mogi-Mirim. Ontem foi lá com o Celso de Nova Odessa, pela última vez, buscar seu giro, parado há mais de um ano. Com a nova administração, tornou-se mais difícil utilizar a infra-estrutura do aeroclube para aplicar os seus ... "negócios".

Passei um domingo muito agradável, desfrutando da companhia dos amigos. Também vimos o Toninho de Itatiba e seu irmão. Foram com as esposas. Para nossa alegria o Zé Preto estava junto, como sempre, e conversamos bastante. O Lacerda nunca tinha visto alguém pilotar um girocóptero como o Toninho faz. Além disso ele gentilmente fez o primeiro teste no giro do Lacerda. "Só não decolei porque estamos com um vento lateral forte, ruim para testar máquina nova. Mas não mexa em nada, Lacerda, porque o giro está bom. Só vamos esperar um momento melhor."

Não bastasse, chegando a hora de eu ir embora o Carinta insistiu, que queria me levar pra dar uma volta num asa-fixa. Descobri que o piloto Eduardo Carinta faz barba-e-cabelo: pilota giro, ultraleve, voa sozinho, voa em dois, tanto faz. Vai para onde quer. Pegamos uma turbulência no finzinho, que ele levou numa boa, sem o menor problema.

Confesso que desci com aquele sorriso típico de quem voa pela primeira vez, pois já fazia um tempinho que eu não voava, a última vez foi em Fartura. Bom demais, como sempre, ainda mais porque a paisagem de Mogi-Mirim é exuberante, com plantações diversas em volta do aeroclube. Há área de escape por todos os lados.

Chegamos em São Paulo já tarde da noite, com aquele consaço gostoso.

Valeu demais. Obrigado pelo convite, Lacerda.

Um grande abraço a todos.

O JuciÊ