quinta-feira, 6 de outubro de 2005

Peruibe, 25 de setembro de 2005.

Os pingos da chuva fina que chega antes do amanhecer me lembram como s찾o belas as coisas simples da vida. Estar de p챕 antes das 5 num domingo 챕 algo incomum pra mim, mas meus amigos t챗m o h찼bito de acordar cedo, e eu n찾o podia perder a chance de estar com eles.

L찼 vem o Lacerda, com o sorriso de sempre. Com ele est찼 o Seu H챕lio, que h찼 muito tempo eu n찾o via, trazendo a esposa, que para minha surpresa se lembrava de ter me conhecido h찼 anos, numa visita a Atibaia.

Para quem não conhece, deixa eu contar que o Hélio e o Montalva aprenderam a voar de giro juntos. Depois de anos de uma boa amizade, e quando o Montalva já vendia seus giros, o Hélio teve a iniciativa de desenvolver rotores de fibra de vidro. Com o apoio técnico da FEI ele obteve aprovação após um dispendioso processo de desenvolvimento e ensaios, que ele bancou do próprio bolso. Segundo me contaram, quando tudo estava pronto para começar a comercialização, o Montalva (que na época tinha um próspero negócio vendendo seus rotores de alumínio), espalhou que em sua opinião o rotor de fibra não era confiável, minando a iniciativa do amigo e arruinando um empreendimento que, segundo os laudos técnicos da FEI, tinha tudo para dar certo. A velha amizade se interrompeu de forma abrupta, e os dois nunca mais se falaram. Por isso, quando encontrar com o Hélio nem mencione o nome Montalva. É palavrão.

Ainda n찾o s찾o 6 horas e j찼 estamos com o giro do Iv찾 firmemente amarrado numa carreta, com mais 2 rotores. Detalhe important챠ssimo: estes 2 rotores foram feitos pela dupla Iv찾 e Lacerda. Eles n찾o gostam de alardear o feito, porque a humildade n찾o permite, mas eu vou alardear.

O rotor sem d첬vida constitui a parte mais cr챠tica na constru챌찾o de um
giro. Durante anos nesta comunidade, convivemos com um problema sério: quem faz rotores? Quem já tentou? Quem já conseguiu? Cavando informações aqui e ali, você fatalmente chegava a uma só pessoa: o Celso, de Nova Odessa. Aí você vai dizer: "mas tem o fulano, o cicrano, o beltrano, que fazem giro". É, mas todos eles compravam o rotor do Celso! Mas só quem já fez negócio com ele sabe o calvário que é. Eu já cheguei a comentar aqui sobre o Celso e choveram críticas. Tive que me render às evidências: não conheço uma pessoa que já tenha feito qualquer tipo de serviço ou comprado qualquer coisa do Celso e que não tenha passado por problemas sérios. Tem estória pra encher um livro.

O Iv찾 e o Lacerda, depois de perderem muito tempo e dinheiro com o Celso, tomaram uma decis찾o dr찼stica: iriam fazer eles mesmos seus rotores. Armados de muito cuidado e paci챗ncia, meteram a m찾o na massa.

Chegando à Peruíbe, o Ivã entra numa padaria e sai trazendo comes e bebes suficientes pra passar uma semana na praia, acertando o rotor.

Descemos da caminhonete um j처ia constru챠da pelo H챕lio h찼 25 anos: um glyder (ou giro-planador, como ele prefere chamar) biplace, constru챠do segundo os planos do Bensen e usando uma cabe챌a de rotor original, trazida dos Estados Unidos. Mesmo ap처s 25 anos pode-se ler o nome "Bensen" na etiqueta de alum챠nio. Os rolamentos e parafusos j찼 foram trocados, obviamente. O impressionante 챕 ver um glyder com esta idade!

Na hora de montar o rotor percebemos que os parafusos que prendem o separador ao "tijolinho" est찾o salientes demais, o que interfere na amplitude do movimento de gangorra que o rotor faz sobre o seu eixo. Em meio ao ar de decep챌찾o, ap처s tanto esfor챌o, tiveram a id챕ia de procurar um serralheiro al챠 mesmo em Peru챠be. Mesmo no domingo eles encontraram uma boa alma que lhes permitiu usar a oficina.

No meio tempo, enquanto o Lacerda e o Iv찾 estavam entretidos, eu conversava com o H챕lio, que me disse que na opini찾o dele a vis찾o que temos sobre o aprendizado 챕 um tanto equivocada. Hoje, considera-se que 챕 imposs챠vel aprender a pilotar um giro, a n찾o ser tomando aulas com um instrutor num giro biplace motorizado.

Contou que na 챕poca em que ele e o Montalva aprenderam, simplesmente n찾o havia giro motorizado duplo, portanto esta possibilidade n찾o existia. Sendo assim usaram o mesmo recurso empregado durante d챕cadas: o glyder. "Este preconceito dos mais novos com o giro-planador 챕 totalmente
errado. Era nele que todos n처s aprend챠amos naquela 챕poca." Segundo o que ele me explicou, pelo que me lembro o m챕todo 챕 mais ou menos assim:

No giro-planador com o instrutor:
. v척o
. controle da velocidade do rotor
. gangorra
. muito pouso e decolagem
. curvas

Repete-se este ciclo no planador sem o instrutor do lado. Depois de um bom tempo nisso voc챗 pode abordar o giro motorizado desta maneira:

. taxiar v찼rias horas, fazendo gangorra controlando o rotor e motor;
. levantar no m찼ximo um ou dois palmos do ch찾o, manter assim;
. decolar, manter, pousar... decolar, manter, pousar...
. levantar um pouco mais;
. fazer curvas bem leves em S;
. finalmente, quando se sentir bem preparado: um circuito completo.

Cada etapa destas feita sem pressa. Leva-se meses, mas é um método que funciona. "O biplace motorizado é uma boa alternativa, não é a ÚNICA."

N찾o demorou nada e chegaram o Iv찾 e o Lacerda. Desta vez a amplitude do movimento ficou como esperado. Depois de suarmos um bocado pra botar o VW pra funcionar, eu vi o rotor funcionando, e me pareceu que funciona muito bem. A opini찾o do H챕lio, que ficou testando o rotor durante horas no giro do Iv찾, 챕 de que ele tem um desempenho que n찾o deixa nada a desejar. O cuidado que ambos tiveram na sua confec챌찾o valeu a pena.

Tinha mais pra contar, mas infelizmente o tempo que eu dispunha acabou.

Um forte abra챌o a todos voc챗s, meus amigos, muito obrigado pelo carinho.

Esta mensagem foi postada nos sites:

http://groups.msn.com/ABgiro/discusses.msnw
http://br.groups.yahoo.com/group/clubedogiro/

O JuciÊ

6 comentários:

  1. Juciê  que saudade de Peruibe, já vai para 24 anos que fiz meu primeiro voo de Giro nestas praias , o gryder dois assento( lado a lado) era rebocado por um maveric ou uma kombi .... brabo não , sem falar nos consertos do gryder de ultima hora com cabo de vassoura.   Coisa de 2 anos atras pegamos o gryder do Alberto e fomos relembrar os velhos tempos , resumo.. o Alberto guebrou o braço , e o rotor uma verdadeira reliquia ainda de madeira quebrou todo.... que arte  A proposito o Montalva ainda faz bons rotores, os rotores dos meus giros são todos fabricados por ele.   Um grande abra챌o BOSCO

    ResponderExcluir
  2. Ola   Olhem !   O Juciê saiu da toca, e o Bosco também Legal,  Juciê  O que a gente n찾o faz para aprender a voar ?  E faz os amigos acordarem as 4 hs da manhã Estou partindo para a segunda etapa do aprendizado, agora com o meu Giro mas ainda quero ter aulas motorizadas com um bom instrutor . Acredito que principalmente pocedimentos de emergencia só se aprende fazendo  De qualquer maneira o Glyder é um Ã³timo começo. Não tenham preconceitos   Lacerda  

    ResponderExcluir
  3. Juci챗, que bom ouvir de voce outra vez! Ja estou com saudades de novo de estar com o grupo e montando/desmontando giros. Os rotores de fibra sao tao bons quanto os outros mas voam diferente, eu adoro o som que eles fazem no pouso e nas curvas. Alguns reclamam que 챕 macio demais, por챕m sem um daqueles mais avan챌ados, os feitos em fibra sao mais suaves em voo realmente. Peruibe hein? Quer dizer que temos mais um grupo para curtir? E este grupo de giros ai, a quanto tempo esta online? Preciso ir la pra ver e ouvir as historias . . . Quer dizer que o Montalva sabotou o novo rotor? Esperto ele, manteve o mercado a sua merc챗. grande abra챌o Heron Ah! e voc챗 ja esta voando?

    ResponderExcluir
  4. Oi, Bosco. Tudo bem?

    Lamento o ocorrido com o Alberto. Infelizmente acidentes com glyders s찾o comuns, n찾o s처 aqui, porque na verdade s찾o duas pessoas pilotando uma aeronave, e elas t챗m que estar em sintonia o tempo todo. Basta um momento de distra챌찾o ou falha na comunica챌찾o entre piloto e motorista e ... CABUM!

    Eu diria que para o motorista 챕 mais dif챠cil que para o piloto,
    dependendo do lugar. Em Peruibe mesmo, passa gente pra l찼 e pra c찼. O motorista tem que manter um olho no peixe e outro no gato o tempo todo. J찼 em Mogi-Mirim 챕 mais tranq체ilo, porque a pista 챕 vazia.

    Coloquei na Internet algumas fotos:

    http://www.jucie.com.br/peruibe

    Um grande abra챌o.

    O JuciÊ

    ResponderExcluir
  5.   Bom dia a todos   Que sastifa챌찾o ao acordar ....e ler ....algo significativo   realmente vocês fazem falta ..... para tocar  a comunidade. Nada de ficar na toca ..... em silêncio profundo   faz um bom tempo ......... muito tempo desde aquele churrasco em Atibaia.   Nada contra  o GLIDER .... é uma  forma para aprender a dominar o giro, que não é facil , até dominar os 3 eixos.   Sem o barulho do motor .... só o sibilar do rotor  ..... a comunicação flui tranquilamente ....            aumenta aí mais o cabo para galgar as alturas.   é um passo significativo  ......... para então pilotar um giro realmente motorizado , a velha guarda já fazia assim.   Que tal uma filmagem ......um video ...... para guardarmos de recorda챌찾o.   O site do Juciê em tempo ...... guarda as lembranças .....  que fique perene o registro ....   e que ..... de vez em quando lá ..... matarmos a saudade. ( qualidade das fotos ).   As  histórias e estórias  marcadas pela giroaviação são cheias de meandros, e entre os pousos vamos reinterando.   Tem mais por a챠 ????   Abra챌os   AbelhaRJ              

    ResponderExcluir
  6.   Juci챗   t찼 na hora da ins척nia ......... acorda meu.....   hibernou          LEVANTA AÍ MEU .......VAMOS TRABALHAR ..... E ESCREVER OU CONTAR HISTORINHAS               

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.